Segunda, 22 Junho 2015 22:34

Nélida Piñon

Nélida Piñon assume cátedra da USP para intermediar trabalhos entre Brasil e países ibero-americanos

SÃO PAULO - A escritora Nélida Piñon, 77 anos, assumiu nesta quinta-feira a Cátedra José Bonifácio da Universidade de São Paulo (USP) como titular do ano de 2015.Criada em 2013, a cátedra é uma iniciativa do Centro Ibero-Americano (Ciba) da USP, núcleo ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa e ao Instituto de Relações Internacionais (IRI), que convida uma personalidade do mundo ibero-americano para ministrar atividades acadêmicas na universidade durante um ano letivo.

Os convidados desenvolvem pesquisa com temas referentes a sua especialidade. Além disso, são realizadas conferências abertas à comunidade e específicas para docentes e discentes. Neste ano, o tema das pesquisas que Nélida irá coordenar será “O Imaginário Ibero-americano”, que tratará de temas culturais, como a literatura.

- Eu quero examinar as matrizes culturais das américas mas sempre a partir da escritura. O ato de escrever, de registrar o mundo, a realidade, foi sempre essencial para nossa cultura. Há uma intensa oralidade no Brasil, tem o cordel, o xamã que ia de aldeia em aldeia para contar história, ia relatar o que ocorreu, todo mundo conta história. Eles eram narradores, a narrativa oral sempre foi forte no continente e isso tudo derivou em grandes romances, que vamos discutir. Vamos fazer um corte nessa narrativa, no pensamento constitutivo da América ibero-americana, que abraça também não só a América latina mas Espanha e Portugal, que estão na raiz dos fundamentos da nossa história – explicou a escritora.

Ocupante da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), o evento contou com a participação de Alfredo Bosi, seu colega na ABL e professor aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e do também membro da ABL Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores e professor emérito do Instituto de Relações Internacionais da USP.

 
 

Nélida assume no lugar do economista Enrique Iglesias, que esteve à frente da cátedra em 2014. Ex-presidente do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID), ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria Geral Ibero-americana (Segib) e ex-ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Iglesias coordenou pesquisas na Cátedra com o tema “América Latina na Atual Conjuntura Internacional: os potenciais impactos econômicos, sociais e políticos”.
 

Escritora Nélida Piñon assumiu a Cátedra José Bonifácio da Universidade de São Paulo (USP) como titular do ano de 2015 

Marcos Alves / Agência O Globo
 

A nova titular da Cátedra é formada em jornalismo pela Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Em 1970, inaugurou a cadeira de Criação Literária na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É a quinta ocupante da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), desde 1990. Em 1996, tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir a ABL.

Filha e neta de galegos, vencedora do Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras de 2005 e integrante da Academia Mexicana da Língua, Nélida foi a primeira brasileira a se tornar membro honorário da Real Academia Galega. É autora de “A república dos sonhos", o livro no qual aborda a história do Brasil e da imigração espanhola.

CRISE NA AMÉRICA LATINA

Durante o evento, Iglesias falou sobre os desafios da América Latina no século XXI. O professor afirmou não lembrar de uma crise de governabilidade tão grande como essa vivida atualmente por países como Brasil e Venezuela.

- Temos um momento difícil, do ponto de vista político, em vários países. Alguns mais graves do que os outros, com perda de credibilidade das lideranças políticas. Mas a democracia tem capacidade de reagir frente a essas circunstâncias e consolidar o que foi conquistado anteriormente com tanto trabalho – afirmou Iglesias.

O professor afirmou que a região não se recupera bem da crise de 2008 e que houve um “otimismo exagerado” com a economia na América Latina, que chegou a registrar um crescimento de 6,7% e agora deve ficar em 1,5%. No entanto, ele ressaltou que a pobreza não cresceu.

Questionado sobre os movimentos brasileiros atuais que pedem impeachment, Iglesias disse que é importante ouvir a população mas que a democracia é capaz de reagir.

- Tem muitos movimentos sociais hoje no mundo, a sociedade tem capacidade de se expressar, o importante é ouvir e entender porquê está acontecendo isso para que seja uma força dinâmica e criativa e não só uma força de postergação social. Temos que nos preocupar mas não nos alarmar porque as coisas vão mudar e está na própria democracia a capacidade de reação de sair desses problemas – afirmou o professor.

Nélida concorda que a situação atual é crítica mas aposta na cultura como reação.

- A crise é aguda, não se pode esquivar dessa realidade mas a cultura é vigilante, ela conta história das crises, os povos abraçam a cultura para aguentar os impactos, os socos e as deslealdades das crises. A crise nos quer afundar mas nos não vamos afundar porque um pais que teve Machado de Assis não pode se dar ao luxo de uma derrota. Nós temos razoes para lutara e exigir um brasil melhor. É a hora de fazer o grande questionamento: que Brasil nós queremos? A estética tem dimensão moral – afirmou a escritora.

Fonte:  http://oglobo.globo.com/brasil/nelida-pinon-assume-catedra-da-usp-para-intermediar-trabalhos-entre-brasil-paises-ibero-americanos-15575807#ixzz3dzy8faXi 
© 1996 - 2015. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Publicado em: 03/12/2015

 

Nélida Piñon assume cátedra da USP para intermediar trabalhos entre Brasil e países ibero-americanos

SÃO PAULO - A escritora Nélida Piñon, 77 anos, assumiu nesta quinta-feira a Cátedra José Bonifácio da Universidade de São Paulo (USP) como titular do ano de 2015.Criada em 2013, a cátedra é uma iniciativa do Centro Ibero-Americano (Ciba) da USP, núcleo ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa e ao Instituto de Relações Internacionais (IRI), que convida uma personalidade do mundo ibero-americano para ministrar atividades acadêmicas na universidade durante um ano letivo.

Os convidados desenvolvem pesquisa com temas referentes a sua especialidade. Além disso, são realizadas conferências abertas à comunidade e específicas para docentes e discentes. Neste ano, o tema das pesquisas que Nélida irá coordenar será “O Imaginário Ibero-americano”, que tratará de temas culturais, como a literatura.

- Eu quero examinar as matrizes culturais das américas mas sempre a partir da escritura. O ato de escrever, de registrar o mundo, a realidade, foi sempre essencial para nossa cultura. Há uma intensa oralidade no Brasil, tem o cordel, o xamã que ia de aldeia em aldeia para contar história, ia relatar o que ocorreu, todo mundo conta história. Eles eram narradores, a narrativa oral sempre foi forte no continente e isso tudo derivou em grandes romances, que vamos discutir. Vamos fazer um corte nessa narrativa, no pensamento constitutivo da América ibero-americana, que abraça também não só a América latina mas Espanha e Portugal, que estão na raiz dos fundamentos da nossa história – explicou a escritora.

Ocupante da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), o evento contou com a participação de Alfredo Bosi, seu colega na ABL e professor aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e do também membro da ABL Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores e professor emérito do Instituto de Relações Internacionais da USP.

 
 

Nélida assume no lugar do economista Enrique Iglesias, que esteve à frente da cátedra em 2014. Ex-presidente do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID), ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria Geral Ibero-americana (Segib) e ex-ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Iglesias coordenou pesquisas na Cátedra com o tema “América Latina na Atual Conjuntura Internacional: os potenciais impactos econômicos, sociais e políticos”.
 

Escritora Nélida Piñon assumiu a Cátedra José Bonifácio da Universidade de São Paulo (USP) como titular do ano de 2015 

Marcos Alves / Agência O Globo
 

A nova titular da Cátedra é formada em jornalismo pela Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Em 1970, inaugurou a cadeira de Criação Literária na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É a quinta ocupante da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), desde 1990. Em 1996, tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir a ABL.

Filha e neta de galegos, vencedora do Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras de 2005 e integrante da Academia Mexicana da Língua, Nélida foi a primeira brasileira a se tornar membro honorário da Real Academia Galega. É autora de “A república dos sonhos", o livro no qual aborda a história do Brasil e da imigração espanhola.

CRISE NA AMÉRICA LATINA

Durante o evento, Iglesias falou sobre os desafios da América Latina no século XXI. O professor afirmou não lembrar de uma crise de governabilidade tão grande como essa vivida atualmente por países como Brasil e Venezuela.

- Temos um momento difícil, do ponto de vista político, em vários países. Alguns mais graves do que os outros, com perda de credibilidade das lideranças políticas. Mas a democracia tem capacidade de reagir frente a essas circunstâncias e consolidar o que foi conquistado anteriormente com tanto trabalho – afirmou Iglesias.

O professor afirmou que a região não se recupera bem da crise de 2008 e que houve um “otimismo exagerado” com a economia na América Latina, que chegou a registrar um crescimento de 6,7% e agora deve ficar em 1,5%. No entanto, ele ressaltou que a pobreza não cresceu.

Questionado sobre os movimentos brasileiros atuais que pedem impeachment, Iglesias disse que é importante ouvir a população mas que a democracia é capaz de reagir.

- Tem muitos movimentos sociais hoje no mundo, a sociedade tem capacidade de se expressar, o importante é ouvir e entender porquê está acontecendo isso para que seja uma força dinâmica e criativa e não só uma força de postergação social. Temos que nos preocupar mas não nos alarmar porque as coisas vão mudar e está na própria democracia a capacidade de reação de sair desses problemas – afirmou o professor.

Nélida concorda que a situação atual é crítica mas aposta na cultura como reação.

- A crise é aguda, não se pode esquivar dessa realidade mas a cultura é vigilante, ela conta história das crises, os povos abraçam a cultura para aguentar os impactos, os socos e as deslealdades das crises. A crise nos quer afundar mas nos não vamos afundar porque um pais que teve Machado de Assis não pode se dar ao luxo de uma derrota. Nós temos razoes para lutara e exigir um brasil melhor. É a hora de fazer o grande questionamento: que Brasil nós queremos? A estética tem dimensão moral – afirmou a escritora.

Fonte:  http://oglobo.globo.com/brasil/nelida-pinon-assume-catedra-da-usp-para-intermediar-trabalhos-entre-brasil-paises-ibero-americanos-15575807#ixzz3dzy8faXi 
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Publicado em: 03/12/2015

 

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