Vários povos, uma identidade

Em conferência na USP, o secretário geral ibero-americano, Enrique Iglesias, destaca a multiculturalidade como um dos maiores patrimônios das populações da América Latina, Portugal e Espanha

Por Izabel Leão

Em palestra realizada na USP, no dia 21 passado, o secretário geral ibero-americano, Enrique V. Iglesias, apontou como ponto fundamental das relações internacionais hoje a multiculturalidade da comunidade Ibero-americana. Para ele, qualquer análise sobre o tema deve levar em conta os fatores históricos e culturais e a grande mestiçagem que formou a identidade atual dessa comunidade. “A cultura é o ponto de apoio fundamental desse esforço de entendimento. Depois vêm os interesses econômicos, políticos e sociais. Nessa identidade cultural temos uma coisa que nenhuma outra comunidade tem. Nem a comunidade europeia pode ser comparada a essa identidade de culturas misturadas com as influências originárias da Europa e da África. Tudo isso dá um caráter fértil à comunidade ibero-americana”, ressaltou.

A palestra de Iglesias, intitulada “A Ibero-América no novo Contexto Mundial”, foi proferida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Criada em 2003, a Secretaria Geral Ibero-Americana dirigida por Igresias tem como missão apoiar administrativamente a Conferência Ibero-Americana, que reúne os países da América Latina, Portugal e Espanha e tem sede em Madri, na Espanha.

Sobre a atual crise financeira, Iglesias afirmou que, no início, há cinco anos, como toda crise do mundo capitalista, tratou-se de uma crise financeira que contou com uma engenharia altamente criativa, alimentadora da especulação. O importante a ressaltar, disse, “é que um mercado financeiro sem regulação tem enorme capacidade de evoluir para a especulação, com impactos fenomenais em todas as áreas – sociais, econômicas e políticas. Por isso a regulação é fundamental.”

O secretário-geral afirmou ainda que o mundo está saindo da crise, embora não se possa saber quando e como será o fim definitivo dela. Para ele, o importante é saber que o ponto de chegada da pós-crise não é o mesmo ponto da partida. “Vamos nos encontrar em outra economia, baseada fundamentalmente em conhecimento, tecnologia, inovação e outros atores, em que aparecem claramente os países emergentes. Não dá para pensar o mundo sem a presença dominante desses países. Teremos outra sociedade, onde a classe média vai dominar, mesmo com todas as dificuldades.”


Ajustes 

Segundo Iglesias, há dois modelos de programa de ajustes da economia, o americano e o europeu. Enquanto os Estados Unidos optaram por injetar dinheiro, fechar bancos e limpar a economia, a Europa tomou resoluções mais ortodoxas, prometendo um futuro melhor.

Iglesias vê essa situação com algumas ressalvas. “Pela primeira vez o norte da Europa criou um modelo que impõe ao sul do continente novas medidas e não conta com adesão social. Portanto, temos uma espécie de encruzilhada”, destacou. “Por isso a crise da Europa é tão grande e as dificuldades são tão complexas.”

Sobre a China, Iglesias refletiu que, embora ela tenha alcançado o segundo patamar da economia mundial, vem mostrando sinais claros de involução e necessita de uma mudança rápida e eficiente. “As taxas de crescimento dos últimos meses mostram que a China tem que se ajustar internamente, querendo ou não.”

Iglesias se preocupa com os rumos com que tratados econômicos, principalmente os do Atlântico Norte e do Pacífico, defendidos pelos Estados Unidos e Europa. Segundo o secretário geral, eles deverão impactar o mundo ao constituir-se em núcleos comerciais que poderão ditar normas para o resto do mundo.

Outro aspecto importante das relações internacionais abordado por Iglesias se refere ao novo perfil energético mundial. O secretário geral lembrou que os Estados Unidos serão autossuficientes em petróleo dentro de cinco a dez anos. Isso mudará toda a estratégia do comércio mundial, dando mais poderes aos americanos, que serão um país muito mais tentado pelas tendências isolacionistas, acredita.

Sob esse panorama, o secretário geral alertou para um processo de fragmentação do mundo e afirmou que, para a América Latina, isso é motivo de grande preocupação, porque esse processo poderá gerar regras que limitem o livre comércio. “Sem contar que, se isso se constitui à margem ou contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), será altamente dramático para a América Latina, podendo causar tensões além dos planos comerciais e criar muito mais problemas do que de soluções.”

Iglesias propôs que se tenha muito cuidado com a macroeconomia, com as taxas de crescimento e com a balança de pagamentos. “Ainda estamos no momento de enfrentar grandes reformas pendentes, como a educação de qualidade, a tecnologia e inovação, a reforma do Estado para confrontar o novo mundo, e essa reforma inclui a reforma das políticas sociais, que devem ser repensadas, buscando excelência na qualidade do gasto social”, declarou. “Também precisamos redefinir e flexibilizar os mecanismos de integração. É uma ilusão imaginar que os mecanismos de integração antigos continuarão os mesmos. É melhor termos objetivos de integração possíveis.”

Em conferência na USP, o secretário geral ibero-americano, Enrique Iglesias, destaca a multiculturalidade como um dos maiores patrimônios das populações da América Latina, Portugal e Espanha

Por Izabel Leão

Em palestra realizada na USP, no dia 21 passado, o secretário geral ibero-americano, Enrique V. Iglesias, apontou como ponto fundamental das relações internacionais hoje a multiculturalidade da comunidade Ibero-americana. Para ele, qualquer análise sobre o tema deve levar em conta os fatores históricos e culturais e a grande mestiçagem que formou a identidade atual dessa comunidade. “A cultura é o ponto de apoio fundamental desse esforço de entendimento. Depois vêm os interesses econômicos, políticos e sociais. Nessa identidade cultural temos uma coisa que nenhuma outra comunidade tem. Nem a comunidade europeia pode ser comparada a essa identidade de culturas misturadas com as influências originárias da Europa e da África. Tudo isso dá um caráter fértil à comunidade ibero-americana”, ressaltou.

A palestra de Iglesias, intitulada “A Ibero-América no novo Contexto Mundial”, foi proferida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. Criada em 2003, a Secretaria Geral Ibero-Americana dirigida por Igresias tem como missão apoiar administrativamente a Conferência Ibero-Americana, que reúne os países da América Latina, Portugal e Espanha e tem sede em Madri, na Espanha.

Sobre a atual crise financeira, Iglesias afirmou que, no início, há cinco anos, como toda crise do mundo capitalista, tratou-se de uma crise financeira que contou com uma engenharia altamente criativa, alimentadora da especulação. O importante a ressaltar, disse, “é que um mercado financeiro sem regulação tem enorme capacidade de evoluir para a especulação, com impactos fenomenais em todas as áreas – sociais, econômicas e políticas. Por isso a regulação é fundamental.”

O secretário-geral afirmou ainda que o mundo está saindo da crise, embora não se possa saber quando e como será o fim definitivo dela. Para ele, o importante é saber que o ponto de chegada da pós-crise não é o mesmo ponto da partida. “Vamos nos encontrar em outra economia, baseada fundamentalmente em conhecimento, tecnologia, inovação e outros atores, em que aparecem claramente os países emergentes. Não dá para pensar o mundo sem a presença dominante desses países. Teremos outra sociedade, onde a classe média vai dominar, mesmo com todas as dificuldades.”


Ajustes 

Segundo Iglesias, há dois modelos de programa de ajustes da economia, o americano e o europeu. Enquanto os Estados Unidos optaram por injetar dinheiro, fechar bancos e limpar a economia, a Europa tomou resoluções mais ortodoxas, prometendo um futuro melhor.

Iglesias vê essa situação com algumas ressalvas. “Pela primeira vez o norte da Europa criou um modelo que impõe ao sul do continente novas medidas e não conta com adesão social. Portanto, temos uma espécie de encruzilhada”, destacou. “Por isso a crise da Europa é tão grande e as dificuldades são tão complexas.”

Sobre a China, Iglesias refletiu que, embora ela tenha alcançado o segundo patamar da economia mundial, vem mostrando sinais claros de involução e necessita de uma mudança rápida e eficiente. “As taxas de crescimento dos últimos meses mostram que a China tem que se ajustar internamente, querendo ou não.”

Iglesias se preocupa com os rumos com que tratados econômicos, principalmente os do Atlântico Norte e do Pacífico, defendidos pelos Estados Unidos e Europa. Segundo o secretário geral, eles deverão impactar o mundo ao constituir-se em núcleos comerciais que poderão ditar normas para o resto do mundo.

Outro aspecto importante das relações internacionais abordado por Iglesias se refere ao novo perfil energético mundial. O secretário geral lembrou que os Estados Unidos serão autossuficientes em petróleo dentro de cinco a dez anos. Isso mudará toda a estratégia do comércio mundial, dando mais poderes aos americanos, que serão um país muito mais tentado pelas tendências isolacionistas, acredita.

Sob esse panorama, o secretário geral alertou para um processo de fragmentação do mundo e afirmou que, para a América Latina, isso é motivo de grande preocupação, porque esse processo poderá gerar regras que limitem o livre comércio. “Sem contar que, se isso se constitui à margem ou contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), será altamente dramático para a América Latina, podendo causar tensões além dos planos comerciais e criar muito mais problemas do que de soluções.”

Iglesias propôs que se tenha muito cuidado com a macroeconomia, com as taxas de crescimento e com a balança de pagamentos. “Ainda estamos no momento de enfrentar grandes reformas pendentes, como a educação de qualidade, a tecnologia e inovação, a reforma do Estado para confrontar o novo mundo, e essa reforma inclui a reforma das políticas sociais, que devem ser repensadas, buscando excelência na qualidade do gasto social”, declarou. “Também precisamos redefinir e flexibilizar os mecanismos de integração. É uma ilusão imaginar que os mecanismos de integração antigos continuarão os mesmos. É melhor termos objetivos de integração possíveis.”

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